30.9.05

Um brinde aos botecos

Coisa boa é conversa de boteco. Fala-se muita besteira, ri-se um bocado, fica-se amigo de gente que até então era só conhecido, etc e tal. E ainda por cima tem as surpresas. Gente que você achava chata e sem graça no dia-a-dia pode revelar-se para lá de bacana. Alguns céticos vão dizer que é por causa da cerveja, mas eu não. Para mim, é o boteco. Com mesa de plástico (o que seria dos botequeiros sem o petróleo?), falação, risos, segredos e cigarros, acredito que é um universo paralelo. E o melhor é que está logo ali, na sua esquina.

28.9.05

Tempo de Lisboa

Está frio. Eu adoro. Vento sul, chuva, roupa de manga comprida. Se der para amarrrar uma cachecolzinho no pescoço, então... Gosto quando olho o mar e ele e o céu se confundem, porque ambos estão plúmbeos (gosto dessa palavra também). Tem gente que fica triste quando o tempo lá fora está assim. Eu, não. Fico melancólica, mas acho isso bom. E sinto saudade de Lisboa. Aprendi a gostar de tempo feioqueparamimébonito lá. Quando chove, dura dias. E todo mundo sai do mesmo jeito, sem medo de derreter. Todos os carrinhos de bebê vêm com capa de chuva acoplada. O Tejo sopra um vento de gelar a alma. Mas é bom. Para falar a verdade, é ótimo.

Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.
(Fernando Pessoa, o português-mor)
Foto: Carla Matos Maio

27.9.05

Pink e o cérebro

Lá se foi outro neurônio.
Menos um.
Quem manda?
Já tomou seu Prozac para começar o dia.
Já tomou cinco cafés para ter taquicardia.
Já tomou um Valiumzinho para a taquicardia ir embora.
Já tomou um Omeprazol para tranqüilizar a úlcera.
Já tomou uma Aspirina para evitar a formação de coágulos no sangue.
Já tomou meio Dramin só para ficar meio lesa.
Já tomou uma Neosaldina para ver se algo mudava.
Já tomou um Targifor C para agüentar o resto de hoje.

Esse é o cérebro falando. É assim que começa Serial Killer, a segunda história do Tarja Preta (o link tá aí embaixo), escrita pela maravilhosa Adriana Falcão. Uma conversa entre o cerébro de uma mulher e a própria, que é claro não chegam jamais a um acordo. É a geração analgésico em ação.
(Adorei essa denominação, mas ela não é minha. Li na capa de uma Revista do jornal O Globo há uns meses. Uma matéria ótima escrita não sei por quem...)

26.9.05

Ei, você está me vendo?


Alguns assuntos parecem que ficam por aí pairando durante um tempo, e a gente esbarra neles várias vezes. Ultimamente, o meu assunto pedra-no-caminho é a invisibilidade. Tudo começou com uma matéria escrita para a TPM pela Clarah Averbuck, em que ela se dispôs a virar homem durante 24 horas. Com direito a barba ralinha, barriguinha de chopp e boné. Um sujeito totalmente ordinário (no sentido de comum, não de sacana). Segundo ela, as duas descobertas fundamentais foram: coça mesmo; ele/a era um rapaz invisível. Andando pela Paulista e adjacências, ninguém prestou atenção nele/a; ninguém olhou duas vezes; ninguém deu a mínima confiança. Ou seja, invisibilidade prática.

Depois foi a vez da primeira história do livro da moda da vez: Tarja Preta. Escrita por Jorge Furtado, conta a trajetória de um viciado em medicamentos (desses que a tal geração analgésico toma religiosamente... inclusive eu) que fica invisível ao misturar Frontal com Fanta (eis o título). Fanta laranja. Ia tudo bem até ele lamber uma menina. No braço. Numa festa. Internação imediata. Claro que não é só isso. É mais triste, mais sarcástico, mais emocionado, mais romântico. Mas a invisibilidade está lá, a saltar aos olhos.

E como uma coisa puxa a outra (linkania, como diria Lain), lembrei de uma campanha da Nokia criada pela Lew,Lara. Um rapaz acredita que é invisível, e se comporta como tal, até que a foto tirada por um maravilhoso modelo mostra que ele não é, de fato. Ou pelo menos que ele estraga as fotos quando não devia...

Invisibilidade deixou de ser, há muito tempo, coisa de bruxa, guru, química. Agora é parte do dia-a-dia de gente comum. Eu, por exemplo, fico invisível às vezes. Na frente dos meus alunos. Também estão invisíveis aqueles que a gente ignora. Aqueles que um dia estiveram na mídia e não estão mais. Os assuntos que o jornal coloca para escanteio estão invisíveis. A propaganda que não se vê porque existe propaganda demais. Viram paisagem. Não são admiradas, sequer olhadas. São nada. Não existem. São... invisíveis. Ei, você está aí???????????????????????????????????

PS: Agradecimentos a Cacá e Felipe, meus afilhados e patrocinadores. Eu amo vocês.

25.9.05

E a vaca foi para SP...

Tente viajar com duas crianças em um avião lotado, cheio de adultos cansados depois de uma semana de trabalho duro, com uma aeromoça (elas gostam de "comissária", mas dane-se) pouco amável. Essa foi a ida. A volta foi bem mais tranqüila. Depois do embarque, claro. Porque até lá elas estavam azedíssimas. Não as culpo: foram acordadas muito cedo, e estavam com fome. Tudo no mundo fica ruim quando se tem fome e sono, ainda mais um Congonhas lotado e sem lugar para estacionar o carrinho! Só as vacas nos salvaram. Alguns dos exemplares do Cow Parade estão no aeroporto, mas há muitos outros espalhados pela cidade. É divertido andar e dar de cara com uma chifruda no meio do caos paulista. Elas estão lá, paradas, com cara de vaca mesmo, mas coloridas, "acessorizadas", pintadas. Nem vou entrar no mérito de ser arte ou não, mas que é entretenimento da melhor qualidade, é.
A aerovaca, de Fábio Malx, está na Faria Lima.

23.9.05

VIX-SP

Terra da garoa, aí vou eu. Aliás, vamos. Eu, Cora (filha), Dinda (irmã e madrinha da filha) e Malu (sobrinha, filha da irmã e afilhada). Uma invasão de mulherzinhas na cidade mais bacana do país (depois de Manguinhos e Baependi...). Domingo eu volto.

22.9.05

Interrompemos nossa programação para a propaganda eleitoral gratuita...

Assunto espinhoso. Estão querendo votar às pressas no Congresso uma lei que, segundo alguns, vai livrar o país dos políticos corruptos, das falcatruas nos executivos e legislativos por aí, dos malvados da fita. Para esses ingênuos, censurar a propaganda eleitoral vai resolver todo o problema da corrupção, e a onda de limpeza vai começar em Brasília e se arrastar por todo o país. É para rir ou para chorar? O simplismo com que a questão vem sendo tratada é absurdo. Me faz lembrar a piadinha do cara que, encontrando a mulher com o amante no sofá, joga o sofá pela janela...
As restrições propostas (programas de TV feitos somente em estúdio, proibição de contratação de artistas, fim da distribuição de camisetas, entre outros) partem do princípio que a propaganda e especialmente a propaganda televisiva são responsáveis pela cafajestagem que assola a classe política. Ao proibir tudo o que "tira a atenção do que realmente interessa no discurso político", estaríamos devolvendo a racionalidade ao discurso e, conseqüentemente, ao voto.
Mas quem disse que política algum dia já foi só razão? Se a gente pensar que nossa origens estão na Grécia, lá estavam também os sofistas, a preocupação com a eficácia do discurso, as alegorias. E quem disse que usar a emoção para escolher é ruim? Essa dicotomia, essa oposição é muito discutível. E fora que me parece um preconceito danado dizer que uma escolha "racional", que é baseada nos critérios da classe média intelectual, burguesa e urbana do Brasil (uma parcela pequena da população, né?), é melhor para todos.
Além disso, reduziram a reforma política à reforma da propaganda política...
O assunto é polêmico e infindável. Essa é minha "modesta" opinião. Para ler mais, vai lá nos jornais Folha SP e Globo e muitos outros. Até o dia 30 de setembro, último dia para se aprovar, a toque de caixa, o projeto de lei, você vai ouvir/ver/ler muito do asssunto por aí...

21.9.05

Autobronzeador é uó!

Assisti um filme descompromissado e divertido recomendado pelo meu amigo/aluno Bruno Merçon (http://obsceno.zip.net). Os tais Penetras Bons de Bico são mesmo engraçados. Mas o que deixou marcas foi a cor da pele do protagonista Owen Wilson, que nem de longe tem tique de mocinho. O sujeito está laranja! Na verdade, varia entre o terracota e o cor de abóbora. Esquisitíssimo. Aí me lembrei que, algum tempo atrás, o Marcos Mion andou aparecendo em umas fotos das revistas que cobrem o grand monde (gostou, Caras?) no mesmíssimo tom. Em ambos os casos – casos é mesmo a melhor palavra, só um médico ou um terapeuta pode tentar entender – o resultado é fruto da ação de autobronzeadores. Funciona assim: ser moreno é sexy; não há sol nem tempo nem disposição para lagartear; vamos aos autobronzeadores. Alguns, inclusive, são uma espécie de lava-jato, e jogam o produto em spray sobre o corpo todo da vítima em uma cabine. Eu, hein. Prefiro ser branquela...

O laranjinha é o da direita...

20.9.05

Tenho gastrite. Descobri há pouco tempo, foram só dois chiliques por enquanto, mas não estou gostando nada de mais uma manifestação da pós-hipermodernidade-líquida sobre mim. E o pior de tudo é a falta de café! Eu tomo (ou tomava) café o tempo inteiro. Não fumo, mas um espresso bem tirado é uma das minhas delícias preferidas. Pois o hábito está temporariamente suspenso. E isso sem falar no álcool...
Tirem-me os vícios, e não restará nada. (não sei de quem é, mas é assim que me sinto)

19.9.05

Experiência profissional

Quem é você?, perguntou.
Sou seu vizinho. Moro aqui há mais de dez anos.
Tenho 96 anos, disse ele.
Eu sei, Charley.
Deus não quer me levar porque Ele tem medo de que eu fique com o emprego dele.
Você poderia.
Poderia ficar com o trabalho do Diabo, também.
Poderia.
Quantos anos você tem?
71.
71?
É.
Isso é ser velho também.
É, eu sei, Charley.
(O bom e velho Bukowski, em "O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio")

TPM, a revista

Sou obsessiva-compulsiva com revistas. Assino algumas, compro inúmeras. Os jornaleiros me amam. Um dos meus (muitos) sonhos era ser dona de um café com literaturas e afins, mas tenho o pressentimento que ia falir... Adoro a TPM, apelido da Trip para Mulher. Na deste mês, depois de alguns números defendendo a legalização do aborto, a capa é sobre a opção pela maternidade (texto de Karla Monteiro com colaborações). Ouviram mulheres que optaram por ter seus rebentos e outras que, conscientemente, optam por não o fazer (não porque abortaram, mas porque decidiram jamais engravidar – parece a mesma coisa, mas não é). Essas últimas reclamam da pressão que sofrem e do preconceito. Paradoxal? Vê só um trecho:

Somos, de fato, a primeira geração das mil e uma escolhas. E até a maternidade virou uma questão – ou uma das questões. Boa parte de nós não mais simplesmente tem filhos. Temos uma fila de coisas para resolver antes: ter uma profissão, fazer carreira, achar respostas na terapia, experimentar modelos de relação, encontrar o homem que se encaixe nos nossos sonhos, fazer viagens transformadoras e, então, decidir se queremos – ou não – ser mães. (TPM # 47)
Vai lá... http://revistatpm.uol.com.br/47/reportagem/home.htm


Dá para pensar. Eu acredito que é possível fazer tudo ao mesmo tempo agora, inclusive ter filhos. Mas é certo que o número de decisões que a gente tem que tomar aumentou consideravelmente...

18.9.05

15 minutos e nada mais


Nestes tempos de tanta sacanagem (no pior sentido...) e safadezas na mídia, os 15 minutos de fama previstos por Andy Warhol encontraram uma versão ainda mais cruel... Bruno Drummond, na sua Gente Fina (da Revista O Globo), é expert em fazer a gente rir com aquilo que nos assusta.
Vai lá... http://www.brunodrummond.com/

Encantamento

Misture música, teatro, performance, dança. Acrescente um quê de messianismo e misticismo. Pronto, você ainda está longe de imaginar como é o Cordel do Fogo Encantado. Ontem eles estavam na Praça do Papa, em Vitória-ES. De frente para a baía, com o convento ao fundo e a lua cheia no céu. O vocalista, Lirinha, parece possuído por um erê qualquer. Mexe os braços, faz caretas, se abaixa, levanta... E para completar, os bonecos do Brasil todo na exposição organizada pelo Sesi. Não foi um sábado qualquer.
Quer ver mais? Vai lá... http://www.cordeldofogoencantado.com.br/

Para começar...

Minha filha viajou com o pai. Ela é linda. Eu a amo. Mas ficar um fim de semana inteiro de folga da atividade materna é uma delícia. Dormir até quando quiser. Comer quando tiver fome. Não obrigar ninguém a escovar os dentes. É, a felicidade às vezes é um ex-marido.