31.10.05

Adiem o jingle bell!!!!!!


Estamos em novembro. Quer dizer, oficialmente, daqui a duas horas e meia, mais uma do horário de verão. Mas é só andar pela cidade para achar que pularam o mês 11 e foram direto para dezembro. De 10 a 12, sem ímpares no meio. Olhe as vitrines. Tem papai noel para todo lado. Anjos. Renas. Laços dourados. Fitas vermelhas. Uma profusão de brilhos que só deverá se repetir no próximo carnaval (este, se não mudarem a data, deve ser em fevereiro mesmo). Eu confesso. Adoro natal e reveillón. Gosto de arrumar a árvore com a minha filha, que sempre faz questão de colocar os enfeites iguais juntos, o que deixa nosso pinheiro de plástico esquisitíssimo. E nem me venham com aquela história de que o nosso natal é fruto do imperialismo americano, que quem inventou o papai noel foi a Coca-cola, blábláblá. Poderia muito bem trocar o velhinho agasalhado por alguém com a indumentária mais fresquinha, pendurar enfeites de pano num coqueiro, desenhar uma carroça puxada por jegues... Ia continuar sendo sensacional. Mas em dezembro, por favor. Em novembro não dá!

30.10.05

Breves

Andei sumida da teia, mas muitas outras ocuparam meu tempo nos últimos dias. Limpar uma casa fechada desde o século passado é dureza.

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A independência feminina é um kit completo para abrir vinhos, daqueles que unem o objeto que tira o lacre e o saca-rolhas sem esforço. Quem é mulher vai entender.

25.10.05

Eu vôo. Tu voas?

Tenho asas. Elas estão grudadas nas minhas costas, e dali não sairão jamais. Não, não tomo Red Bull; não acredito em anjos (apesar de adorardepaixão aquele filme piegas com o Nicholas Cage e a Meg Ryan – obrigada, Bruno Neves – em que os anjos vestem sobretudos pretos e ficam parados nas pistas do aeroporto). Mas que dá uma sensação danada de boa saber que a idéia de liberdade absoluta está pelo menos tatuada em você, isso dá.
No dia em que fui fazer as asas (ganhar asas, se preferir), não tinha muita certeza de como elas ficariam. Imaginei uma coisa simplezinha, sem muita pretensão, só para constar. Mas o sujeito que fez o desenho foi muito além disso, e colocou duas belas asascompenasetudo em cima das minhas omoplatas (mudaram de nome, minha mãe que é médica já falou, mas eu prefiro esse antigo).
No dia-a-dia, o dever do ofício e o bom senso me obrigam a escondê-las. Mesmo assim, sem vê-las, sei que estão lá, me convidando, me lembrando que tudo é possível.

24.10.05

Homo machinas

Atenção! Este post vai se desintegrar em 3... 2... 1... Pronto, foi-se. Desligaram a luz. Queimou o HD. Já era. E eu, ali, sem saber muito bem o que fazer. Uma vontade enorme de sentar e chorar. De raiva. De ódio. De incompetência. De impotência. Morro de inveja de quem tem sempre um plano B, uma saída pela direita. Eu posso até fingir, mas não. E problemas tecnológicos, hoje, são muito mais do que existenciais. Será que Freud ia saber lidar com isso? Duvido. Ia dizer que era culpa da mãe de alguém...

22.10.05

Mangia che te fa bene

A fome dói. Eu sabia, mas pude participar de uma experiência antropológica esses dias. Saí com minha filha para almoçar fora, num dia em que a maravilhadaburguesia, a empregada doméstica, não vem. (Essa é uma outra história, porque herdei uma ajudante da minha mãe, que generosamente a divide comigo, e ainda por cima continua pagando o salário todo. Eu só dou a gorjeta... Depois eu conto, prometo.) Restaurante médio, tipo nembaratonemcaro, mas não era self service porque eu odeio. Cora enjoada, chorona, birrenta, medonha, chata. Nada estava bom. Nada servia. Nem a Coca-cola que deixei pedir (normalmente só se bebe isso no fim de semana na minha casa). Um horror! O inferno pode estar bem pertinho às vezes. Mas eis que surge, maravilhosamente, um pão na mesa. Era um couvert que um garçom generoso e de saco cheio de ouvir chororô de criança trouxera. As coisas começaram a se acalmar. E minutos depois, o macarrão! Lindo. Farto. Massa curta. Fácil de comer (quem tem criança sabe que é muito melhor um penne ou um farfalle do que um tagliarine...). E minha filha voltou a ser uma criança feliz. Ufa! É por essas e outras que sou italiana até o último fio de cabelo. Ou de spaghetti...

19.10.05

Pedalar é preciso

Aula de equilíbrio
Maria Isabel de Oliveira sonhou em andar de bicicleta a vida inteira. Quando criança, andava na garupa do irmão no sítio, mas nunca pilotou a magrela sozinha. Tinha medo de cair. Nas vezes que tentou aprender, não pôde contar com a paciência dos irmãos – nem depois, com a do marido. "Cheguei a sonhar com o vento no rosto ao andar de bicileta", diz ela. Aos 54 anos, assistiu a uma reportagem sobre uma escola de bicicleta na sua cidade, Curitiba. No dia seguinte estava inscrita, semanas depois já pedalava. "Hoje vou de bicicleta a todo lugar e no fim de semana passeio lado a lado com meus netos."

O trecho acima é um pedacinho de uma matéria de Marcelo Rudini publicada na revista Vida Simples de outubro/2005 (#33). Serve para várias elucubrações... Por exemplo, que andar de bicicleta é maravilhoso e vale a pena esperar 50 anos para isso. Ou que um sonho de infância é um desejo eterno. Ou que a felicidade está nas coisas pequenas e banais (para quem vê de longe...). Ou que existem pessoas que, na verdade, são generosas o suficiente para abrir uma escola de realizar pequenos sonhos, caso do Américo Vieira, dono da tal Park Bike. Ou... Ou... Ou...

17.10.05

Batuque

Meu nome é Janaina. Assim mesmo, sem acento. É um dos tantos nomes dados a Iemanjá, rainha das águas rasas do mar. Segundo Zeca Ligiéro, expert no assunto, "Iemanjá é tão maternal que faz até vista grossa para não ver os defeitos de seus rebentos. Mas também é possessiva, e pode fazer chantagens emocionais para que suas 'eternas crianças' jamais se afastem dela. (...) complacente, superprotetora e apaixonada pelos filhos."
No catolicismo, virou Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Não sou nada religiosa e já falei disso aqui. Mas nos últimos tempos o candomblé tem sido um tema teórico constante. Um bocado por culpa do ilustre Zeca, um bocado por curiosidade tardia pelo meu nome e amor eterno ao mar. E também porque é absolutamente fascinante conhecer a maneira como essa religião explica o homem e a sua relação com a natureza. Os orixás são criaturas próximas dos seres humanos, têm ódio, amor, rancor, inveja, se amam e se odeiam, brigam e fazem as pazes. Têm desejos, vontades inexplicáveis que devem ser prontamente atendidas. E as suas histórias são maravilhosas, uma mitologia africana genial.
Bom, mas eu sou somente uma neófita. Para saber mais, vai lá: Iniciação ao candomblé, Zeca Ligiéro.

16.10.05

Mi casa, su casa

Nunca tive cachorro. Jamais. Na minha família, bichos sempre foram coisas esquisitas. Para não mentir, tive um peixe chamado Edmundo, um beta, que morreu. Eu consegui deixar um peixe morrer!!!!!! Totalmente imbecilóide para cuidar de animais, não dava para ter cachorro nem gato nem passarinho. E já tenho uma filha, o que é trabalhoso e caro demais. Bom, mas agora quero. Quero uma casa com quintal e árvores e cachorro. Para você ver como a vida muda...

PS: Ultimamente tem um filme me perseguindo. Closer. Too much...

13.10.05

Liquefação. Ou a idéia que o sol derreteu.

Ontem, mais sol. Desse jeito, vou acabar virando uma rata de praia...

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Tente explicar para uma criança que ganhar uma nota de 10 é a mesma coisa que ganhar várias de 1 e 2 reais. Ela não entende, não aceita e não quer. Até mais ou menos 4/5 anos, crianças interpretam valor e quantidade da mesma forma. Se é pouco, é pouco e pronto. Só mais tarde vão compreender (ou se acostumar, já que não há outro jeito) que o dinheiro, na verdade, não existe. Ele é pura e simplesmente uma invenção que se torna cada vez mais e mais virtual. Virtualmente, pagamos contas, recebemos nosso módico salário, compramos coisas. O dinheiro voa de um lado para o outro? Não. Ele sequer está em algum lugar. Jamais esteve? Assim como a comunicação e os relacionamentos, o dinheiro também liquefez-se. Virou um monte de zeros e uns no cyberespaço. Bauman diz que é a modernidade líquida; Lipovetsky chama de hipermodernidade; muitos de pós-modernidade; outros de maluquice ou insanidade.
Pós-modernidade e afins? Pode começar pelo blog da Lain...

10.10.05

Zzzzzzzzzz...

Eu gosto de dormir à tarde. É claro que não posso fazer isso tanto quanto gostaria, mas às vezes deitoedurmodesonhar. Quando acordo normalmente não sei quem sou, onde estou, se é hoje, ontem ou amanhã. Não sei nem se já trabalhei ou se ainda vou trabalhar (normalmente ambos estão certos). Algumas pessoas não gostam porque dizem se sentir culpadas. Acordam deprimidas e tal. Uma vez li não sei onde que a culpa de dormir à tarde tem a mesma origem daquela que se sente ao ganhar dinheiro: a bendita culpa católica. No protestantismo, ganhar dinheiro que vem do trabalho é uma bênção divina. Para os católicos, é feio. Assim, ajudar aos outros têm muito mais a ver com culpa, e portanto com sentir-se bem (ou seja, nada generoso), do que realmente estar preocupado com o sujeito ao lado. A menos que você ganhe dinheiro ajudando alguém... O filme Quanto vale ou é por quilo?, de Sérgio Bianchi, é cruel com as instituições e atitudes benemerentes e benevolentes em geral. Não deixa ONG sobre ONG. Coloca todas elas, e nós junto, num enorme saco de egoísmo, sacanagem, cinismo e afins. Mas não fala nada sobre dormir à tarde. Ainda bem.






"A bondade é o melhor status que o ser humano pode comprar." (do filme)

Sol, filhos e marcas

Praia, depois de meses. É claro que passei o filtro solar igual ao meu nariz e estou listrada. Mas foi divertido. Crianças, crianças, mais crianças. E tome jacaré, piscina na areia, corrida na água (várias, já que cada um tem que ganhar pelo menos uma vez). Gosto mais de frio, odeio suar, e prefiro ser branquela, mas quando se tem filho a gente tem que ser mais diurna e solar. Só não me peçam para ficar como um galeto, girando para tostar de maneira igual de todos os lados. Se é para ter marcas, prefiro outras às de biquini. Tatuagens, por exemplo. Ou cicatrizes. Coleciono ambas...

Saiu na Vida Simples uma notinha breve sobre tatuagens (se não conseguir ler, já que era uma resposta ao leitor, leia qualquer parte, porque vale a pena...), mas para saber tudo mesmo, recomendo Bodies of inscription: a cultural history of the modern tatoo comunity, de Margo DeMello. Vai lá...

7.10.05

Fiat Lux (ou não)

Ontem e hoje a energia elétrica resolveu surtar, o que levou a algumas quedas repentinas na rede de computadores dos laboratórios por aqui. Eu estava lá, meio que no início de uma aula, quando... Quando nada! Escuro. Abram as janelas e as portas. E o exercício que se ia fazer? Pára tudo. Pára o mundo. Será? Lá fora estava tudo igual. O mesmo mangue-maravilha, o mesmo sol (que tem andado lindo). Talvez com mais silêncio. Mas a impressão era de caos. Somos viciados em eletricidade.

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E se te fizessem um pedido que você quer atender, mas acha que não deve?

5.10.05

Nem tudo sobre minha mãe

Esse é um post filhinho da mamãe. Já aviso desde a primeira linha, para que depois não venham me acusar de ser puxa-saco, piegas ou cafona. Como diria minha amiga W., minha mãe é tuuuuuuuuudo! E posso apostar que a sua também.
Minha mãe, a Sra. MM, é médica. Não uma médica qualquer, que lide com dores quaisquer. Ela é oncologista pediátrica. Para aqueles que não têm tanta intimidade com o jargão dos homens de branco, significa que ela cuida de crianças com câncer. C-â-n-c-e-r. Um nome que muitos preferem nem dizer, com receio de que traga algum (toctoctoc) azar.
Mas ela vai lá, todo dia, às 6 da madrugada, para algum dos hospitais em que trabalha. Médico, como jornalista, tem muitos empregos... Chama as crianças pelo nome e as mães de "mãe". Lida com a morte, todos os dias, mas se nega terminantemente a acostumar-se a ela. E também não acredita em deus. Mas respeita aqueles que rezam e oram e pedem e etc, desde que tomem os remédios direitinho.
Eu cresci achando que toda mulher fosse assim independente e bem resolvida como minha mãe. Até que fui descobrindo que não, que do jeito dela não há ninguém (para o bem e para o mal). E que eu, pobrezinha, estava há léguas de distância. Aí na adolescência gritei, esperneei, me afastei. Mas quando virei adulta (tô tentando... tô tentando...), vi que tudo que eu queria era que ela me desse um colinho. Precisei aprender a pedir. E a doutora, como sempre generosa, estava lá, de plantão.
Dizem que eu pareço um pouco com ela, o que me enche de orgulho. Mas no fundo eu sei que ainda falta crescer um bocado para chegar no meio da canela.

4.10.05

Amém







Hoje o Cine BR em Movimento abasteceu a faculdade em que trabalho com o documentário , de Ricardo Dias. Aí abriu o pensatório. Ao mesmo tempo que sinto um preconceito intelectoburguêsnojentinho contra religiões e afins, fico maravilhada com a crença. Na verdade, com a capacidade de crer. Crer é acreditar e ponto. Sem mais delongas. Deve ser, penso, mais ou menos como assistir um mágico e não tentar descobrir os truques, mas encantar-se com as flores e os coelhos que saem da cartola.
Vai lá... http://www.cinemabremmovimento.com.br/ Eles podem ir até você.

3.10.05

Poema do pé quebrado sobre o tempo ingrato e tirano

"O tempo perguntou para o tempo
quanto tempo o tempo tem?
O tempo respondeu para o tempo
que o tempo tem tanto tempo
que nem mesmo o tempo sabe
quanto tempo o tempo tem."

Quem dera... O tempo não tem muito tempo, ao contrário do que gostaria meu amigo Elton. O tempo não tem tempo nenhum. Não tem paciência. Não sabe esperar. Quer tudo agora. Hoje. Para já. E ai de você se não der. Se não cumprir. Se não atender. O tempo é um chato de galocha...

2.10.05

Pares (im)perfeitos


Li uma matéria na Revista do Globo sobre os casais que viraram casais no auge dos anos 70 e que continuam juntos até hoje. Para aqueles que nasceram em 80 (existe gente que nasceu em 80!!!!!), os 70's foram os nossos anos incríveis. O slogan "sexo, drogas e rock'n roll" foi criado por algum publicitário absolutamente integrado à época, e no Brasil a gente ainda tem que acrescentar "ditadura militar".
Meus pais, por exemplo, foram um casal 70. Ambos estudantes de medicina, quando a medicina era o curso em que se concentravam os contestadores e rebeldes e politizados, ambos jovens, ambos comunistas. Fugiram e se esconderam na Barra do Jucu (totalmente hippie), foram presos, a minha mãe estava grávida de mim (eu fui presa antes de nascer!). Falando agora, só me traz um enorme orgulho, mas na época sei que foi um pesadelo.
Bom, mas eles são um ex-casal. Ficaram juntos durante um tempo, depois se separaram, casaram de novo. Sempre tentando encontrar a tal felicidade. Ao contrário dos homens e mulheres da matéria, optaram por fazer isso sozinhos ou com outros pares. São amigos e a gente sai sempre juntos. Nas festas da família e nos almoços de domingo, é a própria excêntrica família de Antônia. Tipo os seus, os meus, os nossos. Acredito que são felizes, sim. Com suas crises e suas descrenças periódicas, mas felizes. Meu pai tem um anjo da guarda, Naná. Minha mãe tem amigas eternas. E assim vão...
Os casais que continuam casados encontraram maneiras diferentes de permanecer juntos. Alguns tiveram outros e contaram, outros se afastaram e voltaram, outros foram companheiros constantes e inseparáveis. Sem fórmulas, sem "como fazer", sem pretensão de dizer para as gerações seguintes o segredo do sucesso. Vai ver que felicidade é isso: tentar procurar. O que interessa é o processo, porque não existe um fim. E se for para ficar feliz só no final, por favor, me antecipem alguns capítulos.
Não vai lá... Procurei um link para a Revista do Globo, mas não achei. Foi mal...